sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Entrevista com Barbara Mariano - Coordenadora de Comunicação da Associação EuSouEu - A Ferrugem

 





















Barbara Mariano 

Formanda em Comunicação Social, Jornalismo. 

Qual é a sua experiência com mulheres em cárcere? Como uma sobrevivente (egressa) do sistema prisional e trabalhando com essas mulheres até hoje, minha experiência com essas mulheres é de vivência mesmo.

Qual é o maior desafio das mulheres que estão presas? Ressignificar sua vivência aqui fora, porque segmentos da sociedade civil jamais esquecerão o seu passado, entretanto essa mulher pode superar esse passado reescrevendo sua história aqui fora. É muito difícil, mas se essa mulher encontra uma rede de apoio e oportunidades de uma nova vida, ela consegue.

Qual é o maior desafio dessas mulheres quando saem da prisão? Sobreviver sem reincidir no crime. Olhar os filhos com fome, perceber que todas as portas estão trancadas para ela e só o crime a quer de volta e não se deixar seduzir por isso outra vez, é complicado.

O que a sociedade pode fazer para mudar a realidade atual? Perceber que todos nós cometemos erros, os maiores bandidos deste país estão nos lugares de poder, votando leis, retirando direitos dos desfavorecidos e isso não revolta essa sociedade. _Quando a sociedade entender que um adolescente armado no varejo do tráfico é o efeito e não a causa da violência, as coisas começarão a caminhar.

Como você vê o sistema prisional brasileiro?  Uma fábrica de moer gente. Um sistema muito bem direcionado para qual público ele quer silenciar: corpos pretos, pobres e periféricos.

Fale um pouco sobre o EuSouEu. Como surgiu a ideia? De que forma atua? Qual é o propósito?

O EuSouEu surge em 2017 ainda intra-muros pela insatisfação de, até então detentos, que se viram nesse silenciamento, onde muitas pessoas queriam chegar até os apenados e usá-los somente como objeto de estudo, sem preocupação alguma em expor a vida dessa pessoa para se promover na luta antiprisional como alguém que apoia a causa, mas nunca olhou para o mais afetado, o apenado (a). Nós nos reunimos para que ninguém mais falasse das nossas aflições, dores e angústias, a não ser nós mesmos e persistimos para que essa fala ecoe nos órgãos de Direitos Humanos para que se pensem medidas que interrompam esse ciclo de superencareamento.

Atuamos atendendo familiares e pessoas que passaram pelo sistema prisional, fazendo uma ponte entre essas pessoas e as instituições que elas necessitam acessar para ter de volta sua cidadania pós-cárcere. Nos colocamos também nos debates públicos, pesquisas e estudos que visam a interrupção deste encarceramento em massa, da perspectiva de quem já foi afetado por esse sistema.

Nosso propósito é apoiar a luta antiprisional, prevenindo e reduzindo os impactos gerados pela reincidência.

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